sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A relação das Farc com o governo Lula

Há uma turma da direita ouriçada que só com a reportagem de capa da revista colombiana Cambio: O dossiê brasileiro. Logo nos parágrafos iniciais da reportagem, Cambio promete ao leitor uma série de mensagens entre homens das Farc que ‘comprometem cidadãos e funcionários do governo brasileiro’. Na lista estão inclusos ministros de Estado e tudo.

A existência destas mensagens já havia sido divulgada por Lourival Sant’Anna no Estadão de domingo. O que a revista traz de novo é o conteúdo dos emails.

A Cambio ainda alerta o distinto leitor para o fato de que Alvaro Uribe, o presidente colombiano, tratou tudo com muita discrição, forneceu as informação ao presidente Lula num encontro reservado e fez de tudo para que nada viesse a público. Mas há, infelizmente, um descompasso entre o que a Cambio promete e aquilo que de fato entrega.

As mensagens trocadas pela internet entre 1999 e início de 2008 envolvem o líder das Farc, Manuel Marulanda, seu chefe militar, Mono Jojoy, o ‘embaixador’ da narcoguerrilha no Brasil, ex-padre Oliverio Medina, e outros dois homens.

Nenhuma das mensagens indica troca de correspondência entre membros do governo brasileiro e as Farc. O que está nas mensagens é um leva e traz de promessas que permitem concluir muito pouco. ‘É possível que me visite um assessor especial de Lula’, diz uma hora. Noutra, ‘Gilberto Carvalho nos ajudou bastante’. Qual a natureza da ajuda? Ninguém conta. Aqui vem a promessa de que um vereador do PT facilitará o encontro com Celso Amorim. Mas o encontro não acontece. Outro promete contato com Marco Aurélio Garcia – mas o contato não se estabelece.

Talvez a mensagem mais delicada seja esta, de 4 de junho de 2005: Me apareceu um jovem de uns 30 anos que se apresentou como Breno Altman (dirigente do PT), me disse que vinha da parte do ministro da presidência José Dirceu, que por motivos de segurança eles decidiram que nossas relações não passariam pela Secretaria de Relações Internacionais e sim diretamente com o ministro por intermédio de Breno.

Em 16 de junho de 2005, José Dirceu deixou o Palácio do Planalto para nunca mais voltar. Foi abatido em pleno vôo pelo escândalo do mensalão, que estourou com a entrevista de Roberto Jefferson a Renata LoPrete, publicada na Folha de S. Paulo em 5 de junho. Se de fato Dirceu prometeu algum tipo de ajuda, não teve como fazer nada. Os editores da Cambio não sabem que houve o Mensalão: tratam Dirceu como se ainda fosse ministro.

De qualquer forma, Breno Altman, que é jornalista e jamais esteve no governo ou no PT, é mesmo simpático à extrema esquerda. À BBC, ele confirmou que fez uma entrevista com gente das Farc mas negou que jamais tenha negociado em nome do governo. É de todo improvável que um sujeito astuto como Dirceu recorreria a alguém que não tem laços de fidelidade por meio de afiliação partidária ou posição no governo para este intermédio. Mas ninguém precisa acreditar nele. A questão é lógica. Dirceu era um parceiro inútil naquele momento de turbilhão.

O ‘dossiê brasileiro’ da Cambio não se sustenta em pé. Os jornalistas da revista acham que José Dirceu continua ministro e não entendem bem quem é do PT, quem é do governo, quem está no alto escalão e quem não está. Os editores se embaralham todos, coitados. Mas no fim levantam perguntas importantes. As Farc se empenharam em fazer contato com o governo do Brasil. Houve algum tipo de resposta? Se houve, qual foi?

Levantar perguntas não quer dizer apresentar respostas. Na mesma mensagem em que um alegre celebra o possível contato com Dirceu, aparece a informação de que o governo brasileiro garantia tranqüilidade para o padre Medina. Se prometeu, não cumpriu. Pouco mais de um mês depois, em agosto de 2005, Medina foi preso pela Polícia Federal para ser solto apenas em julho de 2006, por decisão do Comitê Nacional de Refugiados.

O Comitê é ligado ao Ministério da Justiça. Demorou um ano para conceder ao padre das Farc a condição de refugiado político. Se valeu, ali, alguma simpatia da esquerda no órgão? É possível que sim. Mas permaneceu preso por um ano e quase foi extraditado. Não parece o tratamento que se dá a um parceiro considerado estratégico. Se houver indícios de que, após ser considerado refugiado político, Medina continuou a manter contato com as Farc, isso é crime e ele deve perder o status de refugiado e ser imediatamente extraditado.

No fim das contas, a questão é simples. Há simpatia, sim, pelas Farc, em vários setores do PT. É uma simpatia arraigada de uma gente que ainda vive nos anos 60 e 70 e perdeu a noção de como funciona o mundo. Este tipo de simpatia no terceiro escalão se traduziu em algum tipo de benesse por parte do governo federal? A Cambio não informa nada do tipo. Quando insinua, é desmentida pelos fatos. O governo do Brasil se intrometeu na política interna colombiana? Não há esta informação. E ao que tudo indica, não. Sem provas de fato não dá para levar a acusação a sério.

Além do mais, gente presa nos anos 60 e 70, doida atrás de comunista, também existe na direita.

Mas é certo que o governo brasileiro tenha tido algum contato com as Farc. É sua obrigação. É preciso ter canais abertos para conversa. Isso não é indício de simpatia ou antipatia. Atuação diplomática pode ser necessária para intermediar conversas entre o grupo e o governo vizinho. E as atividades da narcoguerrilha por vezes ultrapassam as fronteiras brasileiras. Certamente conversaram no governo Lula, como também conversaram no governo FH. Canais de diálogo existem, sempre, até entre os inimigos mais acirrados. Irã e EUA, por exemplo.

Atualização – Nos comentários, o leitor Nicolau reclama que não menciono um dos emails, no qual está a notícia de que ‘la Mona’, que está sendo identificada como mulher de Medina, conseguiu emprego no governo:

‘La Mona’ começou em seu emprego novo e para tranqüilizá-la e impedir que a direita a perturbe em algum momento, levaram-na para a Secretaria de Pesca, onde desempenha um cargo de confiança ligado à Presidência da República.

Cargo de confiança ‘ligados à Presidência’, na esplanada dos ministérios, tem às pencas. Aliás, no governo Lula seu número aumentou. Nomeação por compadrio, amizade ou relações escusas também não faltam, nem nesse governo, nem em qualquer um dos anteriores. Gente simpática às Farc, no PT, também existe. Pois bem, toda a negociação de cúpula entre as Farc e o governo brasileiro se resume a isso? A um carguinho na Secretaria de Pesca enquanto o marido da senhora está encarcerado? Denúncia assim dá uma boa materinha na página 7 em qualquer jornal.

Atualização 2 – Alertado pelo Fabio, nos comentários, alterei o texto. Eu havia me atrapalhado com as datas do Mensalão.

Atualização 3 – Não vai aqui nenhuma teimosia. Há gente incompetente no governo e há militantes que se exacerbam. Não discuto com fatos. Se o governo do Brasil auxiliou as Farc de alguma forma, é grave. Mas, por enquanto, não saiu absolutamente nada que sustente esta acusação. A única descoberta não é novidade: no PT há gente com simpatia pela narcoguerrilha.

PS: Amaveis leitores, VALE APENA LEMBRA que a revista colombiana, “Cambio” (que nome!), tem como sócio proprietário (segundo informes nada confiáveis) o irmão do ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, coincidência? O que esta em jogo nesta “matéria” plantada pelo governo Colombiano? A criação do Conselho Sul-Americano de Defesa e o isolamento do Presidente colombiano, Álvaro Uribe, no Cone-Sul. Atacar a principal liderança da América do Sul (Presidente Lula), pode ser uma tentativa torpe de inviabilizar Conselho Sul-Americano de Defesa. A conferir

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